Apresentação

Tirando partido das celebrações dos bicentenários das revoluções liberais, ocorridas no sul da Europa (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) por volta de 1820, mas influenciando outras regiões e culturas, este congresso internacional pretende constituir-se como um fórum de discussão em torno do impacto que essas revoluções tiveram na cultura literária de vários países. Impulsionada pelos ideais republicanos das Revoluções Francesa e Americana e pelos diversos movimentos independentistas e nacionalistas, a onda liberalista e constitucionalista que percorreu diversas nações europeias (e suas respetivas colónias) nas primeiras décadas do século XIX visava erradicar por completo o absolutismo e o feudalismo que ainda imperavam no seio dessas nações monárquicas, no desfecho das invasões napoleónicas. Interessa-nos, assim, analisar o impacto que estes movimentos e acontecimentos marcantes tiveram na cultura literária do século XIX, nomeadamente nas obras que foram então produzidas em diversos países, mas também nos interessa explorar o papel determinante que muitos escritores (em diversas línguas), alguns dos quais no exílio, tiveram nesses mesmos movimentos e acontecimentos. O objetivo último do congresso será encontrar, nesta convergência de diversas culturas em franca transição, uma corrente ou tradição literária comum de cunho político acentuadamente liberalista.
No contexto deste liberalismo político, e sua respetiva cultura literária, o domínio da tradição constitucional britânica e a sua adaptação republicana pela Revolução Americana têm sido apontados como os motivos principais das revoluções democráticas que aconteceram no mundo atlântico. No entanto, as tradições ibéricas de liberdade – assim como a literatura que as sustenta – são geralmente esquecidas nesse contexto; nomeadamente, a Revolução Portuguesa de 1820 está estranhamente ausente dos relatos históricos e literários existentes. No entanto, se podemos dizer que a posição de Portugal neste mundo atlântico, no início do século XIX, foi central, também podemos afirmar que o mundo atlântico é a principal chave explicativa na compreensão dos motivos da Revolução Portuguesa de 1820. Esta pode ser vista, quer por historiadores quer por escritores, como um processo de independência, como a abolição do Antigo Regime, como a constituição da liberdade, como fundamento de uma tradição constitucional liberal portuguesa. Mas também como uma resposta aos extraordinários desafios internacionais que foram impostos à independência de Portugal – pela França, pela Grã-Bretanha, pela Espanha e pelo Brasil. Em suma, a Revolução Portuguesa de 1820, cujo principal objetivo foi a fundação de um Novo Portugal liberal, combinou o liberalismo e o nacionalismo, da maneira própria das Revoluções Atlânticas; e, de forma mais relevante, com esse objetivo e maneira arrebatou e conquistou muitos criadores literários.
Aceitam-se propostas de comunicação (de 20 minutos) em torno deste tema mais genérico e/ou dos seguintes aspetos em particular:
- Representações das revoluções liberais na cultura literária do período e em períodos posteriores
- O papel das publicações periódicas e da ilustração na representação (criativa) das revoltas liberais
- As ligações entre o liberalismo e os movimentos românticos no contexto europeu e não europeu
- Questões de liberdade política e de liberdade de criação literária inauguradas pelas revoluções liberais
- Os lugares literários do liberalismo europeu e não europeu: génese, memória, recriação
- O surgimento das literaturas nacionais e as questões nacionalistas e independentistas no período
- Lendas e mitos associados à revolta romântico-liberal, incluindo a figura do herói (revolucionários e mártires)
- A perspetiva do Outro – as revoltas liberais vistas a partir da cultura literária de outros países
- Imagens literárias de refugiados e exilados no contexto das revoluções liberais e/ou de escritores no exílio
- Representações literárias de sociedades secretas no contexto das lutas liberais (o exemplo da Carbonária)
- Liberalismo e género literário: A importância do romance histórico na representação dos conflitos liberais; o papel da lírica e do drama no período
- A difusão ou expansão da cultura literária no contexto das revoluções liberais; questões de receção e de tradução
Organização: Instituto de Letras e Ciências Humanas, Centro de Estudos Humanísticos (NETCult), em associação com a Rede Anglo-Hispanic Horizons (AHH)
Palestrantes Convidados Confirmados:
- Prof. Ian Haywood (Universidade de Roehampton, Reino Unido. Presidente da Associação Britânica de Estudos Românticos e Presidente da Rede AHH)
- Prof. Diego Saglia (Universidade de Parma, Itália, Rede AHH)
- Prof. Fernando Machado (Universidade do Minho, Portugal)
- Mais informações
Comissão Organizadora:
- Paula Alexandra Guimarães (Coordenadora)
- Orlando Grossegesse
- Ian Haywood
- Diego Saglia
- Sérgio Sousa
- Carlos Pazos
- Hugo Machado
- Ana Catarina Monteiro
Comissão Científica:
- Agustín Coletes Blanco (Universidade de Oviedo, Espanha)
- Alicia Laspra Ródriguez (Universidade de Oviedo, Espanha)
- André Corrêa de Sá (Universidade de Santa Bárbara, Califórnia, EUA)
- Angela Esterhammer (Universidade de Toronto, Canadá)
- Carlos Pazos (Universidade do Minho, Portugal)
- Cristina Flores (Universidade de La Rioja, Espanha)
- Eugenia Perojo Arronte (Universidade de Valladolid, Espanha)
- Eunice Ribeiro (Universidade do Minho, Portugal)
- Fernando Duran (Universidade de Cádis, Espanha)
- João Paulo Braga (Universidade Católica, Portugal)
- Jonatan González (Universidade de La Rioja, Espanha)
- Jorge Bastos (Universidade do Porto, Portugal)
- Manuel Gama (Universidade do Minho, Portugal)
- Maria de Fátima Marinho (Universidade do Porto, Portugal)
- Orlando Grossegesse (Universidade do Minho, Portugal)
- Otília Martins (Universidade de Aveiro, Portugal)
- Paula Alexandra Guimarães (Universidade do Minho, Portugal)
- Paulo Motta (Universidade de São Paulo, Brasil)
- Sérgio Sousa (Universidade do Minho, Portugal)
- Xaquín Nuñez (Universidade do Minho, Portugal)